quarta-feira, 23 de abril de 2008

Madonna | Hard Candy

Desde o lançamento de "4 Minutes", eu estava meio receioso em relação ao novo álbum da Madonna, pois todo mundo que trabalha com Timbaland acaba ficando com o som muito parecido. Em "Confessions on a Dancefloor" (2005), ela conseguiu misturar pop e música eletrônica de uma forma interessante e particular. Me pareceu estranho seu próximo passo ser produzir um álbum com alguém tão reconhecível.

Hoje, ouvi pela primeira vez todas as músicas de "Hard Candy". De maneira geral, a sonoridade não é nada inovadora. Aquela batida de "Promiscuous" está presente na maioria das canções, o que se torna cansativo depois da faixa 5. Melodicamente, o disco é fraco. Sinto falta da época em que ela surpreendia pela qualidade musical, como em "Like a Prayer" e "Bedtime Stories". Aliás, este último é um bom exemplo de o que pode acontecer quando Madonna se aventura em terrenos hostis... Em 1994, o R&B crescia fortemente no mercado musical americano e ela se propôs a fazer um álbum nesse estilo. Chamou os caras mais badalados da época (Babyface, Dallas Austin) para trabalhar com ela, e o resultado foi muito positivo! Não só pelo fato dela ter misturado bem seu próprio estilo com o que estava fazendo sucesso na época, mas porque as músicas tinham uma qualidade especial... o que faltava em conteúdo melódico era compensado por bons arranjos e/ou uma mega produção. E ainda assim, havia canções bonitas e com letras interessantes. Não é esse o caso de "Hard Candy".

Me parece que quando Madonna se propõe a fazer algo diferente, ela o faz com um certo senso de humor. Isso é bom, pois não dá pra levar ela a sério quando tenta soar feito rapper, como acontece várias vezes ao longo do disco. Enfim, aí vai uma breve descrição de cada música, na ordem em que elas aparecem no álbum:

1. Hard Candy
O CD começa com uma batida que lembra a versão de "The Beat Goes On" que vazou. Madonna usa doces como metáfora pro seu corpo, seus beijos, tudo o que ela pode dar pra um amante, etc... Em termos de melodia e arranjo, não há nada de especial. Uma abertura fraca pro disco.

2. 4 Minutes
O primeiro single oficial de "Hard Candy". Timbaland convoca todo mundo pra uma marcha contra o tempo. Madonna e Justin Timberlake duelam e também chamam todos pra pista de dança. Não é a música mais forte do álbum, mas é divertida.

3. Give It 2 Me
Primeira música do disco que realmente chama a atenção. Tem uma batida animada, e os vocais tem um leve toque robótico no fundo. A letra lembra outras canções da Madonna que falam sobre liberdade e aprendizagem ("Like It Or Not", "Don't Tell Me"). O arranjo é parecido com o de "Future Lovers", bastante divertido e dançante.

4. Heartbeat
Uma das melhores do disco. A melodia lembra "Eleanor Rigby", dos Beatles ("Ah... look at all the lonely people") e no refrão é idêntica a uma música muito antiga da própria Madonna que foi gravada quando ela ainda cantava em bandas (não sei agora se foi na época do The Breakfast Club ou da Emmy), chamada "Don't You Know". A letra repete um tema já explorado em "Isaac" ("All of your life has all been a test"), mas algo me diz que as letras desse CD ficaram em segundo plano. O destaque é sempre para as batidas. Nota-se forte presença de autotune nos vocais. Madonna atinge umas notas bem agudas, mas o som ficou meio estranho. É o tipo de música que vai tocar bem na night; sedutora e dançante.

5. Miles Away
Começa com uma levada de violão bem suingada. O refrão e o arranjo lembram "Forbidden Love", de "Confessions on a Dancefloor". Os vocais são muito bons (tem autotune também, não se engane... mas ficaram mais bonitos que em "Heartbeat"). Fala sobre um relacionamento que funciona melhor à distância do que pessoalmente, e por isso precisa terminar. É uma daquelas músicas que dão vontade de ouvir sendo cantadas ao vivo.

6. She's Not Me
Essa música conquista desde as primeiras linhas. A letra fala de uma mulher que começa a imitar o estilo da Madonna e acaba roubando seu namorado, de uma forma bem humorada. Tem uma forte sonoridade dos anos 80 - teclado com bastante reverb e uma levada de guitarra bem divertida e suingada durante toda a música. O delay nos vocais é um pouco irritante. Há um vocal masculino no meio da música, seguido de uma "paradinha" muito parecida com "Hung Up".


7. Incredible
A voz de Madonna soa como nos primeiros discos (registro grave no final das frases). Essa música é bem diferente do que ela costuma fazer. Melodicamente, no arranjo... e parece dividida em duas partes: na primeira, a letra fala de um encontro maravilhoso e os efeitos de uma pessoa especial entrando na sua vida; na segunda, o arranjo fica mais pulsante e fala da parte física desse encontro.

8. Beat Goes On
Essa versão é diferente da que vazou há algumas semanas, exceto o refrão. A letra e o arranjo são muito melhores! Também tem uma sonoridade anos 80, com um groove de baixo contagiante. Kanye West faz um rap e alguns vocais ao longo da música. O tema da canção é bem parecido com o de "4 Minutes".

9. Dance 2night
Começa com um slap de baixo emendado com a música anterior. Madonna canta as primeiras estrofes e em seguida entra Justin Timberlake. O refrão é cantado pelos dois em uníssono. O arranjo tem um toque de anos 70, com levadas curtas de guitarra e teclado eletrônico acompanhando a melodia.

10. Spanish Lesson
Madonna tenta nos dar uma aula de espanhol. Ironicamente, várias das expressões que ela usa na letra são traduzidas errado. Durante a música ela fica falando "What? What?", tentando um estilo hip hop... mas não funciona. Essa canção parece perdida no disco.

11. Devil Wouldn't Recognize You
Arranjo e melodia bonitos, que lembram muito "What Goes Around... Comes Around", do Justin Timberlake. Fala sobre como as pessoas podem mudar a ponto de se afastarem de você, criando máscaras para não revelarem sua verdadeira personalidade.

12. Voices
Madonna fala sobre alguém atormentado por lembranças e pensamentos que acabam controlando sua vida, e questiona seu verdadeiro poder. Começa com a voz de Justin Timberlake harmonizada, cantando "Who is the master and who is the slave?". A melodia é linda e o arranjo, melancólico. Essa música fecha bem o disco.

No todo, a voz de Madonna parece um pouco forçada e sem brilho... mas está bem afinada e em alguns momentos, suave. Em termos das letras, não parece ter evoluído desde o último disco. S
e houver uma turnê deste CD, valerá a pena comparecer.